Eu queria roubar-te o sono. Mesmo depois de exausto, de trêmulo, de exaurido. Eu queria ter-te perto dos olhos, ao alcance, fora de esconderijos. Eu tinha que encontrar-te para saber-te real. Embora eu sempre tenha sabido que existias. Imagem de Salvador Dali, Sleep.
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Showing posts from November, 2006
Violada
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Os dias estão sendo violados por uma paz de cansaço. Uma paz de desistência, uma paz de tanto faz. Os dias não são bem dias, mas se manifestam, me encontram, embora eu apenas queira não ser vista. Urgem em mim dias de mais que desassossego, um tempo de frio de chuva de inverno, de água que escorrega empurrada pelo vento. Rayuela me espera, a hora do conto me espera. Eu me espero. Haveria estréia? Haveria realmente recomeço? Haveria fome depois da dor, da paralisia? Quais seriam as imagens restantes, as cores novas do sul, o passeio pela alameda escura na qual me conduziste pela mão? Quais seriam as novidades que se desprenderiam de nuvens e me despertariam para construir uma casa, pintar nela (tod)as paredes, tatuar meu corpo junto ao chão, apertar meu sexo contra teu corpo e te pedir que fiques. De qual silêncio surgiria um pássaro grande e equilibrado que resgataria a mim mesma de ausências e de infortúnios? Eu não me abrigo, resisto à tentação de me salvar. Imagem de William Blake, ...
Um pouco
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Estou um pouco. Quando fico um pouco, não me reconheço. Me estranho ao ponto de deixar-me vagar incerta pelas correntes de vento frio e úmido que passam por aqui agora. Quando estou um pouco, fecho-me no silêncio do estar do lado de fora. Estou um pouco mansa, um pouco cansada. Um pouco dolorida. Estou um pouco esmero de querer, de estar certa, de não saber. Estou um pouco ocupada, desenfreada. Um pouco de vinho derramado. Estou um pouco morta, um semi-viva que me abala e me altera. Estou um pouco curto-circuito, um pouco olhos de perdição. Entre. Imagem: Beata Beatrix, de Dante Gabriel Rossetti.
Voladoras
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Do alto de uma casa no ar, cronopia escreve. No frio. Depois da chuva, depois de mandar a puta que pariu a teoria do desapego. Desassossegada pelas horas de manhã que virão e que terão ar e peso de compromisso. Tua tirania me feria. Tua tirania me feriu anos a fio. Tua tirania me persegue no silêncio que eu te imponho. Da casa azul te abano e me refugio obervando o mar, ouvindo ainda meus gritos de amor, vagos como teu semblante alvo de adeus. Não, a vida não é um compromisso. Me comove saber que vocês vão se encontrar. Minha maior guerra é exercitar meu direito de sentir e de ser livre. Limitada pelo corpo e pelas necessidades que sopram da materialidade que me envolve. De que não sou feita. O material já não. O material é o limite. E os limites me matam. De fama o único que tenho é a dança de mãos dadas. Os planos, a organização, as medidas práticas são todas um roubo e um afronte. Eu me jogo no mar, sem saber nadar. Para ver o azul, e sentir o gosto do sal. Que seja um castelo s...
De vidro
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Mãos inquietas as que te cobiçavam. De ventania, impuras por não saberem para onde ir, indecisas. Mãos do sul e parte de um norte estanque. Mãos róseas, inventadas, por uma distração que não me apetecia. Eram mãos que aportavam nos teus submundos e em tuas estalactites. Mãos que eu não queria dizer, e que de sôfrego desfilavam uma parte de lábio, uma parte de recanto, uma casa no campo. Um vidro que mordo na neve, nos deslizar de gelo. Um cheiro de cidade, quando a porta se abre vento. Me alcançava(s) em desolação. Um monólogo de mãos antipáticas, ásperas, estradas de incerteza. Voluntariosas, quiçá apáticas, desprovidas de ritmo. Manchadas de sangue e vidro. Rosas, abrigo de figos.