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Showing posts from September, 2007

Unicidade

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Unicidade seria estar hoje aqui . Imagem: Patrick Reault, Au coeur des lavandes.

Palabras para Julia - Kamchatka

Eau de Cartier

Cinco horrores construídos Cinco meses sem te esperar. Cinco dias em que me castigo. Cinco horas sem fotos, dramas. Cinco meses de escassos dias. Cinco meses sem as esperanças de construir dias de sol na varanda e beijos e todas as coincidências bobas que dilatam-se e adiantam-se quando nos dá por estar em estado de graça e sentir profundamente que não há equívocos, senões, e tudo é extasiante e res(a)cende beleza. Cinco anos feitos de meses. (E depois de poucas horas, enfeitiçados, te mostrava eu uma nesga de mundo, com Eau de Cartier e seus derivados que eu mesma emanava) Cinco meses sem antecipar a chegada. E sem encontrar rastros. Cinco meses sem tecer véus e sem nomear-te. Mas, nem foi hoje. Foi ontem. E tu nem sabes.

Espera

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ainda espero. coragem de amanhecer alguma outra. Que seja um pouco mais louca e atrevida e que tenha na brabeza com a qual encara os dias tanta, tanta intensidade para viver um grande amor quanto a sonhada. Ou mais. Imagem: Tina Modotti fotografada por Edward Henry Weston (1923).

Uma velha viva

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Não estava ali por estar apaixonada. Não dormira bem naquela noite por estar pensando em sua própria cegueira e nas coisas que abandonara por eles. Tentou secar-se um pouco para sentir-se menos patética. Não encontrava a estação de rádio, nem o sono, nem a porta do closet. Sentia frio e uma angústia rara. Era como se agora tivesse provas de que havia enganado-se todo esse tempo, desde a infância até a idade adulta, e agora em sua velhice que cheirava a mijo e talco. A velhice, que agora recaía sobre a pele das mãos, os cantos das bocas – onde o que antes era sorriso insistia em reaparecer, tinha sabor de auto-engano. Tinha quatro vincos grossos de pele – dois de cada lado dos lábios também com aspecto de passado – que ressaltavam a idade que pensava ter. Não tinha mais escudos contra os anos e mais, não tinha mais desculpas suficientemente boas para não ter feito o que sonhara . Os culpados já não estavam. Eram fantasmas. Nem ela mesma estava. Há muito era vulto que tinha hora e rotina

Havia o mar

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Havia o mar quando chegavas e todas as suas cores e seus pequenos mundos. Havia o mar e as luzes e a macia areia que encontravas para somente em mim ficar. Mas eu tinha ainda algo que me protegia do sol e da aridez de quando tu me negavas. Eu tinha um porto. Feito de pequenas esferas e saliva. Eu olhava pela janela. E assim me abandonava. Imagem: John Singer Sargent Nonchaloir (Repose), 1911

Pontos finais

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Talvez somente estenda a mão quem acredita e entende. Tenho cá para mim que quem tenta entender não acredita. Me sirvo deste e escolho quase sempre a dúvida. A fé, eu não sei, mas parece que zomba, faz acreditar no que não sabemos se existe de fato. A fé esconde as verdades. A fé resgata do vácuo. Não, não, ela justamente leva a um vácuo. Um outro tipo de vácuo. Oblitera os sentidos. Ela sugere que abracemos algo, que coloquemos um ponto final. . . . . . . . . . me banho nas águas do mar e escuto seus cantos. Carrego o colorido dos orixás comigo, e pertenço a uma dessas entidades. Dizem que sou de Iemanjá e que por isso adoro perfumes e enfeites. A linda imagem é de Vicente Sampaio . Título: Água de cheiro

Em contrapartida

Quero Na voz de Elis Regina (Thomas Roth) Quero ver o sol atrás do muro Quero um refúgio que seja seguro Uma nuvem branca, sem pó nem fumaça Quero um mundo feito sem porta, vidraça Quero uma estrada que leve à verdade Quero a floresta em lugar da cidade Uma estrela pura de ar respirável Quero um lago limpo de água potável Quero voar de mãos dadas com você Ganhar o espaço em bolhas de sabão Escorregar pelas cachoeiras Pintar o mundo de arco-íris Quero rodas nas asas do girassol Fazer cristais com gotas de orvalho Cobrir de flores campos de aço Beijar de leve a face da lua

Raso

Maria Rita - Muito Pouco (Moska) pronto agora que voltou tudo ao normal talvez você consiga ser menos rei e um pouco mais real esqueça as horas nunca andam para trás todo dia é dia de aprender um pouco do muito que a vida trás* mas muito pra mim é tão pouco e pouco é um pouco demais viver tá me deixando louca não sei mais do que sou capaz gritando pra não ficar rouca em guerra lutando por paz muito pra mim é tão pouco e pouco eu não quero (mais) chega! não me condene pelo seu penar pesos e medidas não servem pra ninguém poder nos comparar por que eu não pertenço ao mesmo lugar em que você se afunda tão raso não dá nem pra tentar te salvar ...veja a qualidade está inferior e não é a quantidade que faz a estrutura de um grande amor simplesmente seja o que você julgar ser o melhor mas lembre-se que tudo o que começa com muito pode acabar muito pior Tem o clipe na web, mas eu achei irritante ver a intérprete se sacudindo dentro de um vestido que parece tirado de um pedaço da bandeira do Br

Hard Candy

Prometi a ela que faria um diário contanto as mazelas diárias, que são tão tãotãotão bobas se comparadas com coisas mais importantes, de gente mais importante, de mundos mais importantes. Estou tentando...mesmo assim. Bati um recorde. Pela primeira vez volto ao consultório de uma psicoterapeuta. Já fui a quatro sessões. Ou eu enlouqueci de vez ou encontrei o caminho, a verdade e a fé. Bem, talvez eu deva falar com ela sobre meu hábito de exagerar. Ótimo, já tenho pauta para a próxima visita. Ãh…consulta. Eu não sabia que ainda se guardavam papéis nos sutiãs. E eis que hoje pela manhã, aquela senhora, que há pouco precisava de ajuda, que nunca tinha me visto na vida e nunca tinha pensado que eu pudesse falar novamente com ela depois do seminário, levanta o decote da blusa e coloca num lugar quentinho e macio o cartão de visitas que eu lhe havia (gentilmente) alcançado. Eu poderia ter ficado sem essa. E eu não fui a única testemunha. Certamente, a gente nunca sabe o dia de amanhã. Vagaro

Quase evidente

Entre um bocejo e outro ela me olhava e olhava para os seus próprios pés e me dizia que queria passar duas horas comigo. Vamos trabalhar todos esses tópicos, mas a pergunta que eu quero explorar é: - Qual é a razão pela qual tu te sabotas? Ah, se eu soubesse não estaria aqui, minha senhora. A partir de ontem, isso virou tema. Tema de casa. Se este blog fosse lido, eu perguntaria aos leitores a mesma coisa.

movimento

a solidao e oculta e sabota.outras formas de felicidade. a solidao e explicita e corta. a carne quebra os dentes. e traicoeira. e se masturba no alvorecer.claridade do dia. mastiga farelos que restaram da noite. para marginalizar.mais.seguro os seios. farta de tanto peso. gela de repente. e entre tantas coisa.sangro. e ele de pau duro no escuro vive mais um dia de faz de conta.

Incertezas

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Talvez fosse amor o que ele sentira. Talvez fosse apenas desejo. Talvez fosse desejo de controlar. Mas o certo era que nessa redoma chamada tempo presente jamais saberia como era estar com ela. E somente com ela. Pode ser que encontrasse em outras, imagens, perguntas, segmentos, o desejo urgente, e pudesse fantasiar. Mas com ela, ele jamais estaria. E talvez isso a tornasse um pouco Medea . Imagem: Michael Parkes, The Last Peony.

Nomeando as coisas

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Vamos chamar as coisas pelo que realmente talvez tenham sido. Lugar algum. Imagem: Michael Parkes, Going Nowhere.

Revolta

Casa assaltada em Porto Alegre. Duas vezes em menos de trinta dias. A criatividade da bandidagem surpreende. Estou sentindo muita raiva. Bendita hora em que eu decidi sair do Brasil. Espero pelos meus.

A chegada

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Tão logo cheguei desfiz as malas para não ter que conviver com as evidências. Encontrei quase tudo como deixei. As roupas limpas e dobradas, as partituras impecáveis na estante perto da sacada, os livros na desordem que conheço bem. Depois me preparei para horas infindáveis. De solidão e de nostalgia. Mas estaria eu preparada? Como? A verdade é que já não acreditava. Não me faltava coragem para sair. Não me faltavam razões. Mas curiosamente tinha os meios, tinha as razões e não tinha o interesse. Tudo me era indiferente. Imagem: Edouard Vuillard , Woman in Bed.
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Ainda deixo a correspondência ao teu alcance. Ainda preparo o banho da mesma forma. Ainda gosto das mesmas coisas e sinto as mesmas angústias. Ainda sinto pulsar. Ainda coloco a roupa no mesmo varal. E estou ainda Vientos del pueblo me llevan Vientos del pueblo me arrastran Me esparcen el corazón Y me aventan la garganta Miguel Hernández Sépia Imagem: Crossing the Bridge - The Sound of Istanbul.

Calar

Pois o silenciar explica e conduz.