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Showing posts from January, 2008

Still

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Ao som de John Mayer. Imagens de Robert Frank.

Flores do Sol

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A gente faz promessas. Se lamenta. Sorri. Vive. Quer. A gente vira sombra. Caos. Espera. Rima. Vento. Desespera. Olha para dentro de si mesmo e nem se enxerga. Espreita. Caminha. Ama. Pensa. Desequilibra. Foram-se os anos, e a velhice me parece redundante. A gente cansa. E embora seja honesto e queira o melhor para si e para os outros, existe quem pense que foi jogo sujo. A gente se ilude. E o sol continua a brilhar. Resgata-me. Imagem: Sunflower 40. De Frank Hunter. Daqui .

Edredon

Quase não dormi. Abraçada em ilusões com um travesseiro entre as pernas e as mãos frias e desoladas. Havia uma luz, solitária, que me encontrava e mudava minha silhueta. Dourada. Eu mesma via meus pêlos minúsculos na sombra da noite. Coxas, pés. Tornozelos. O corpo esmaecido. E todo o corpo. Vestia uma camisa suja para me lembrar do trabalho hediondo daquela tarde. No teto, crespo e branco, uma aranha e um ventilador ligado apenas por hábito. Por certas horas eu era tudo sentido nos poros, na pele, na superfície da língua áspera e absurda. Depois grunhidos abafados pela espera. Suor. A certa altura, abri a janela e espiei o vento que, constante e feroz, não me deixava parar de repetir os mesmos pensamentos, as mesmas cantilenas, nem me abandonar no esquecimento. As noites são calmas em sua maioria. Eu reluto para me entregar ao sono como se não fosse mais despertar. Me faria falta fazer caridade, não ver mais o céu. Deixar de ser. Pois tudo é ônus e caos e me dilaceram as ausências, ma...

Vatícinios

Terias escrito vatícinios? Ou seriam apenas coincidências? Terias ficado mais tempo? Terias estado mais mundano na presença inquieta de um deus? Quando foi que deixei escapar por saber que te prender em meus braços seria deixar de ser? Faz meses que esta espera corta e gela e endurece. As pessoas podem ver que há em mim repulsa pelo que é raso. E eu me deixo vagar por essa antipatia que me isola por ser mais alguma coisa que não sei. Não me importa. Enquanto tu estavas te divertindo, eu estudava. Foi assim que. Uma pena que eu não retenha os fatos, que eu esqueça, que pareça ser outra.

Nomear

Foi antes de nomear todas as coisas que eu sabia que eu te quis. Foi antes mesmo de chamar-me a mim por este nome conhecido e pouco. Foi antes de nomear todas as dores que eu te quis. Foi antes de nomear os não-vácuos, as não-esperas, as desventuras. Foi antes de organizar todas as caixas, em perfeitas estruturas, em perfeitas redomas, em perfeitas mutilações. Foi antes de saber das solidões e das agruras. E antes mesmo de saber dos risos. Foi antes de lamber os lábios e transcorrer percursos. Foi. Muito. Antes.