Talvez quando chegue a aurora, terá passado essa chuva cinza e fria que hoje nos molha. Essa chuva que nos trouxe de novo a realidade e a descoberta de um inverno impetuoso. Talvez quando chegue a aurora, tuas mãos de novo serão minhas companheiras na libertina conquista de teu corpo. Talvez quando sopre menos o vento e não caiam tantas gotas grossas em meus olhos, eu possa de novo olhar-te com o olhar renovado. E me iluminar no teu sorriso. Quando esse dia-noite passar, talvez eu possa esperar algo de novo. De ti, da vida, do amor. Até mesmo da beleza insana de ser diferente. Talvez me sobrem nos bolsos alguns trocados, lenços já usados, e incertezas. Mas na varanda há uma rede, música, um vinho quente com mel e limão e perguntas. Essa mania insensata de questionar o mundo. No lago, a chuva. Insistindo em ser castigo. Talvez quando chegue a aurora eu aceite as diferenças, celebre estar viva, dê boas-vindas ao cinza chumbo deste dia que não se cansou ainda de ser...