A noiva do mar
Maná no iTunes. Só para que doa um pouco mais. Saudade.
Saudades das luzes daqueles dias, das vezes que mergulhei em ti. Agora estou me afogando aos poucos no ar da prisão que se adianta, que cresce. É verdade que muitas vezes a maior distância está entre duas pessoas que estão bem próximas.
Uma amiga de Porto Alegre passou por aqui e me deixou a chave da casa dela para eu usar no final de semana. Estive lá outro dia, tudo bacana. Seria legal pegar um sol na piscina, ouvir música, tomar café no pátio. Conversar. Ter uma boa companhia para, quem sabe, falar de filosofia, filmes, bons livros, bater fotos, relaxar.
De volta ao mundo real, não tenho casa, não tenho companhia, e não tenho tempo para tomar banho de sol. Fim do conto.
Coloquei na cabeça que eu tenho que fazer alguma coisa. Mudar de emprego, de profissão, de cidade. De vida. Não é uma resolução de final de ano. É uma crise que vem se arrastando há muito tempo. Alguém aí disposto a ajudar? Eu não quero acabar como Alma Mahler.
Esta semana meu trabalho foi super devagar. As horas parecem tartaruguinhas sonolentas.
Será que acontece só comigo de tentar esquecer um número de telefone e não conseguir. Pelo contrário, o número gruda e está em todas as partes, até em sonho. Não, não pode ser, isso é super comum.
Hoje foi meu primeiro dia com a Cóqui. Linda. A única poodle que eu gosto. Ela tem uma carinha de ovelha, que dá vontade de apertar. E as orelhas também, caídas e fofas. Hoje de noite tem mais. Acho que vou levar um livro e ler para ela. Logo, logo fotos de nós duas fazendo festa na casa da Y. Quando ela voltar vai encontrar tudo fora de lugar. Vou colocar a culpa na Cóqui, logicamente.
Meu quarto continua com cheiro de roupa molhada por água de chuva. Um horror. CCV está disposto a comprar uma máquina para retirar a umidade do ar. E o dono do apartamento nem se mosqueou para mandar colocar outro carpete. E eu sem a menor vontade de fazer barraco. Estou cansada de brigar. É coragem também ficar calada.
Coragem de ouvir meus silêncios. Por isso não te ligo. Por isso te esqueço no arrastar de mais um dia, perto dos everglades.
Meu próximo vestido vai ser como o da bailadora de flamenco do Exílios. Nem que eu tenha que ir à Espanha comprá-lo. Nadando.
Para rememorar um pouco de Exílios: Minha religião é a música. A minha também, Zano, a minha também.
Tens o que eu quero. E eu quero tudo. E mais. E se isso, para ti, é um problema, tu és o meu problema. Por negares meu direito de amar-te da forma mais selvagem, e plena, e viva que há.
Se não queres que eu insista em ter-te assim, mar, outono, todas as coisas condensadas e expandidas, e valiosas, e voadoras, é por não teres coragem de sair do teu casulo. E aos covardes eu não odeio, nem amo: me são indiferentes, caem na não-existência. Não mais existes. E tu sabes que o ônus de não existir, é não ser amado, pelo menos não por mim. Que teu par seja outro, uma pessoa que saia do mundo das songa-mongas. As mulheres de verdade são sedentas quando amam. Pelo visto deixaste de ser oasis.
Imagem: The Tempest (The Bride of the Wind), de Oskar Kokoschka.
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