Ana Terra - Erico Verissimo

Quando o sol saiu, os três homens foram trabalhar na lavoura. Dona Henriqueta aproximou-se do catre da filha, sentou-se junto dele e começou a acariaciar desajeitadamente a cabeça de Ana. Por longo tempo nenhuma das duas falou. Ana continuava de olhos cerrados, reprimindo a custo as lágrimas. Por fim, numa voz sentida, bem como nos tempos de menina quando Horácio e Antônio lhe puxavam os cabelos e ela vinha queixar-se à mãe, choramingou:
-Mãe, eles mataram o Pedro.
D. Henriqueta limitou-se a olhar a filha com seus olhos tristes, mas não teve coragem de falar.
O sofrimento dava-lhe ao rosto uma expressão estúpida. Ela não queria acreditar que os filhos tivessem feito aquilo; mas já agora não restava a menor dúvida.
-Decerto eles só mandaram o Pedro embora…-disse, sem nenhuma convicção.
-Não, não. Eles mataram o Pedro, eu sei… Que vai ser de mim agora?
-Deus é grande, minha filha. Tem coragem.
-Se eu tivesse coragem eu me matava.
-A vida é uma coisa que Deus nos deu e só Ele pode nos tirar.
-Ou então eu ia embora…
-Mas pra onde?
-Pra o Rio Pardo, pra qualquer outra parte…
-Mas fazer o quê?
-Trabalhar, viver a minha vida.
-Com esse filho na barriga?
-Um dia ele nasce.
-E tu vai ter ele na rua ou numa estrebaria, como um animal? Não, minha filha, teu lugar é aqui. Teu pai diz que para ele tu está morta. Mas eu sou ainda tua mãe. Teu lugar é aqui.

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