Violeta


Pensa nele.

Abre o closet, e o corpo quer toque de seda. A pele recende a perfume, ainda meio úmida, envolta na toalha. Com a mão direita segura o que agora lhe reveste o corpo, e com a esquerda sente as roupas, uma ao lado da outra, com suas histórias de dias que foram plácidos, desérticos, alheios, diferentes da realidade imaginada de agora.

A mão vai deslizando, como se tocasse o corpo dele, descobrindo caminhos, criando rotas, explorando grutas que estão cheias de pedras preciosas e água cristalina.
Volta ao closet, escolhe a roupa que fica mais próxima de si.

A seda mostra e esconde, toca e se ausenta. O bege e o branco não combinam necessariamente, mas renda e seda são um par e tanto. A renda vai revestir a pele durante o dia, e ela vai pensar que são as mãos dele, marcando território, em seus quadris, em suas costas, nos lugares secretos em que ela se deixa ser renda.

E então ela escolhe uma calça preta que se move quando ela anda. Para esquerda, para a direita, ao ritmo de seus passos que balançam sustentados por saltos agulha de cristal -- da cor da sua pele. Ela sente o tecido envolvendo-a pelas coxas, até a cintura. A sensação é de estar sendo abraçada numa concha. A seda pesa. E é como se ele estivesse contra ela - em toda parte.

A blusa de uma malha suave a faz pensar nos beijos que ele vai lhe dar. Desde os braços, caminhando mais para longe, nos ombros, perto do pescoço, no colo, na cintura, nas costas. A malha a envolve agora ainda de leve e para escapar do frio, ela caminha, passos ligeiros, escorregando nele – por dentro.

Imagem de Matisse, Woman in a Purple Coat.

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