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Showing posts from November, 2015

Vestido de Festa na Sala Vazia

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Image by Jennifer Davis Party Dress Não é o medo do escuro que me faz deixar a luz acesa na sala. A sala é mais bela iluminada, ainda que vazia. Estou no quarto, as janelas abertas. O gato mia de duas em duas horas, faminto. Insistente como meus pedidos internos de ajuda. As vezes duvido seriamente que tenha alguma vez sido uma criança. Todas as minhas lembranças de mim mesma me remetem a uma adulta J. Adulta J. sempre soube o que queria. Tentava sempre ser independente.  A primeira amostra de independência foi quando cruzou a rua sozinha pela primeira vez.  Outra vez foi encontrada no apartamento da vizinha socializando com a filha da mesma, sem ter dado nenhuma explicação a família. Ela entrou no meu escritório quase sem ar e me pediu um hidratante. O rosto vermelho de chorar. Tentei ajudar. Falei algo engraçado. Ela quase riu com cara de criança. Aquele sorriso que eu conheci há um ano. O locutor falou meu nome, no ar. E senti que estou viva. 

Manchas

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Image: Lucy Waits for the Sun, by Amanda Blake As imagens do deserto ainda est ão vivas em mim. Cada esquadro daquela viagem em que haviam tantas promessas n ão ditas. Ver-te novamente tinha uma carga de passado t ão forte. A primeira vez que estivemos juntos havia calor e umidade nas ruas urbanas de um bairro t ão movimentado. A noite era qualquer coisa menos calma. E eu te esperei com a pouca calma ansiosa de quem espera por uma surpresa. Navegaste um mundo novo em t áxi e tinhas tantos bra ços. Tanta m ύsica. Hay rencor de herida abierta.  O amarelo dos teus olhos.  Tento cicatrizar a ferida deixada pelo teu amor. Quero fechar esta hist ória, tirar meu cora ção desse espa ço onde dan çam l ágrimas de saudade.  Fui tua numa esquina na Costa da Luz, a dois passos do Estreito de Gibraltar.  Prepara a banheira. Quero molhar o vestido. Manchar de sangue a espuma. Verter sonhos nos sais de fel que encontro no sil ê ncio da casa vazia.  Vejo que a estrada se fecha ma

The Day the Ocean Turned Purple in Paris

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Amanda Blake, When The Sea Turned To Purple I am more careful with my emotions these days. I block them easily. I blocked you from my life because I didn't want to entertain the sadness that always lingered over us. I hang pictures in my apartment these days. I am content with doing, not feeling, not writing, not thinking. Tango is in the backburner for now. But Di Sarli sometimes steals my soul. If I could only order things. Who was, who isn't anymore. All these suppressed ideas I have. Feelings that have been purposefully forgotten because if not my soul would still be bleeding. I had to give it time. Time to have all the blood come out. Time to dry all the blood. My heart asks me questions. My heart doesn't know answers. Doesn't feel a thing anymore. The thick skin that grew in my heart. It protects me. My back is heavy. I don't think about your kisses anymore. The hotel was empty and white. Dark stairs that took me somewhere. Being there was

Naufrágio

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Image: Searching by Jeremy Miranda Voltei para a casa na surdez incomparável que é estar só. Muitas ideias revoltas de como escrever que sem, sem ti, sem romper silêncios no meio da noite, que estar é vão. Cada vez mais me faltam as imagens, me sobram as palavras, me arfa o peito em busca de ar-térias. Já não sei se quando me tocaste  eu era eu mesma, ou outra. Mais banal. Mais cheia de carne e sangue. Desta que agora apenas relembra o som do mar. O arfar de um compasso mútuo. Faça o que voce quiser. Este vazio não  intermitente não redime, não ameniza. Este vazio me toma nos braços com a aspereza fria que moldam os anos de buscas vãs.