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Showing posts from October, 2008

Naturalized

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Uma de minhas atribuições de bibliotecária é intermediar aulas para quem vai virar cidadão americano. O auxílio começa quando os futuros cidadãos entram com o pedido de naturalização por meio de um formulário chamado N-400. Nunca foi de minhas aulas favoritas, mas com o tempo eu passei a valorizar meu papel de intermadiária e aprendi que além de a aula ser muito importante, poderia também me divertir tanto quanto ensinando português ou inglês. Nunca pensei que viraria cidadã. Nunca tive essa idéia. Contra a minha vontade, meu ex-marido fez todo o processo, pagou as taxas, me incentivou, tentou me mostrar seu amor através desse gesto, e me falou sempre da importância de eu vir a ser um dia cidadã americana. Eu nunca entendi que isso fosse prova de amor. Talvez o esforço dele fosse, hoje vejo que sim. E sou grata por isso. A vida dá voltas. Velho cliché tão cheio de verdade. Numa dessas voltas eu assumi o cargo de learning services liason ou literacy contact para uma biblioteca pública

message in a bottle

There was a night, not so long ago, when we were discovering ourselves and falling for each other, drinking tea, smiling, talking as if nothing else mattered. We were feverish. We were blown away by the beauty of finding. There were no (apparent) spaces between the two of us, no tangential lines, no hard words, no tiring silences, or winters of discontent(ment). There was Benedetti and promises and brand new colors of a fresh season. There was perfume around the house and in our bodies, water flowing, rain coming down our eyes, and the ocean in a breezy night far from home. The sky was peach and grey and light as if we were visiting a Turner painting. Today I recollect our memories, as the day busily goes by. It's windy out, and my hands are freezing cold. I retain a mental photograph of your last smile and also a little of your exasperated sigh. I revive the touch of your skin, your hands, our past readings, the few walks on the beach, the wind of your heart in mine. You represent
A dor grande, grande. Como o mar de ressaca.
Me sinto falta. Me sinto ausente. Sinto uma dor aguda nas costas. Um mal-estar generalizado. O dia lindo e azul. E eu presa no frio de dentro deste mini-castelo branco. Quero minhas asas de novo para escrever. Quero reclamar da vida de forma alguma. Mas estou cansada. Vejo meus olhos opacos no espelho novo que fica dentro da casa menor. Pequeno labirinto esse lugar chamado lar. Me assaltaste. Me surpreendeste. Me levaste ao palco para pular. Ao corredor para exibir nosso tango, ao restaurante para massagear meu corpo, ao bar para escutar, para casa para me guardar do mundo e me dar o teu. Teu mundo parece certeiro e alegre. O meu procura. Preciso encontrar novos meios. Novas fotos. Me regenerar. Eu mesma me desafio. Desafio bobo: escrever um post sem palavras que necessitem acento. Protejo meu corpo e mihna alma: creio em teu amor, mas tenho medo. Eu detesto listas. No entanto, mentalmente relembro as coisas boas que vivemos. As tuas palavras, teus gestos que me encantam. O livro de Er

Os dias 14 de outubro

O passado não volta. Nem os teus aniversários não comemorados. Os quatorze de outubro que perdemos. Os que vamos perder. O quatorze de outubro de ontem. O dia que eu tão solenemente ignorei, mas eu sabia. Eu sabia. Eu sabia que era teu aniversário e que se estivesses viva seria mais um quatorze de outubro que tu tentarias fazer com que fosse apenas mais um dia. Mas não era. Foi o dia em que nasceste. E que deste início a tantas coisas boas na vida de tantas pessoas. Estiveste grávida de mim em um quatorze de outubro. O ano era 1977. Me pergunto que sentiste? Que sentiste ao carregar em ti minha vida tão frágil naquela data que tanto desprezavas e que tanto te feria? Terei te trazido ao menos um pouco de alegria? Eu sei que não gostavas do teu aniversário por causa do meu avô, teu pai. Mas isso nunca ficou muito claro para mim. Só agora por saber a dor que ele te causou eu entendo que não deveríamos ter esperado por ele. Mas isso são outros quinhentos. Pois então hoje, um dia depois do

Final de Semana

Uma manhã de chuva e sol. Preguiça. Não chegar atrasada ao trabalho. Não querer trabalhar. Sonhar contigo, mesmo que estejas em meus braços. Pensar no teu passado. Tentar entender essa tua lógica que te faz tão ser humano. Beber café doce e arepa fresquinha feita na hora. Receber de tuas mãos o sanduíche perfeito e o almoço numa sacolinha de plástico. Descansar no sol. Cortar teu cabelo, te escutar fanho. Receber tuas mensagens e ficar contente. Ficar triste por ver fotos antigas. Pensar no dia no parque. Tentar lembrar tudo que fizemos nos últimos três dias, para não deixar a tristeza vir e tomar conta. Relaxar embaixo de uma árvore. Escutar música. Caminhar na grama. Fazer exercício e gostar. Usar luvas de boxe. Tentar não chorar. Lutar por um amor que se por um lado faz muito bem, por outro é permeado de um passado que não quero lembrar, mesmo que nao o tenha vivido. Não me arriscar. Temer. Ficar em casa quando o que eu mais queria era dividir contigo o que há de mundano (e ainda as
Eu não sabia exatamente como seria, mas decidi arriscar. Antes eu escrevia aos borbotões e me rendia. Cansada, andava pela casa colhendo flores através das grandes janelas de vidro, caminhava pela escada circular, bebia café tragando a vida que pensava ter escolhido. Mas acredito que não somos nós que escolhemos. Tantos são os descaminhos, as não-escolhas, tantas são as coisas que fogem do nosso controle, que acabamos por ser apenas um mero produto de uma cadeia de acontecimentos. Não confiava em Deus. Nem na imagem enrugada que via no espelho. As pernas ficariam flácidas. Os olhos murchos, as olheiras passariam a ser cor de ameixa, vincos surgiriam perto do lábio superior. Voltavam-lhe as tardes na pequena cidade do interior, a poeira vermelha e seca que ela engolfava e respirava até chegar ao destino, os sonhos em ser como Clarissa, as promessas de deixar de ser invisível. Alguns a minha volta pensam que sabem o que é melhor para mim. Volto a estar dormente. O peito pesa. Um pouco de

Love

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Love is primarily giving, not receiving. Giving is the highest expression of potency. Giving is more joyous than receiving, not because it is deprivation, but because in the act of giving lies the expression of my aliveness. Erich Fromm in the Art of Loving.