A guria

Uma das minhas atribuições como bibliotecária é me familiarizar com as aquisições que a biblioteca recebe do departamento de compra. Em vários sistemas de bibliotecas daqui é comum que as compras sejam centralizadas. Em Happyland não é diferente: um departamento define e determina baseado, entre outras coisas, em estudos de comunidade, quais os títulos que as bibliotecas receberão.
Tenho o privilégio de trabalhar em uma comunidade que inclui hispânicos, brasileiros, e americanos. Por isso nossa coleção inclui títulos nos três idiomas e por isso também que tive que desenferrujar meu espanhol quando comecei a trabalhar aqui. Português é bem verdade falo pouco no trabalho, mas de vez em quando tenho a oportunidade.
Acho que o livro que mais me marcou entre tantos que já passaram pelas minhas mãos, e que infelizmente (e isso eu sempre me cobro muito) não ficou muito tempo comigo foi Los Niños Tontos de Ana Maria Matute. Eu o li até a metade, como acontece comigo quase sempre. Vai longe o tempo em que eu conseguia ler antes de dormir ou o tempo em que não me cansava de ler. Me sinto exausta depois de um dia de trabalho. Sobretudo, meus olhos se cansam de ler na tela do computador e ao chegar em casa prefiro canciones.
Descosiderando as justificativas, este livro me mandou direto a minha infância com seu primeiro conto La Niña Fea (aliás, meu favorito). Um continho curto, revelando para mim os anos de escola que já vão longe, mas que de um tempo para cá têm estado muito presente. E quando li o conto e vi ali um retrato meu, minha própria infância, senti que havia sido condensado em duas páginas o que eu não consegui – por não tentar e por não querer remexer nos doloroso capítulo chamado Passado - escrever desde que compreendo o que aconteceu comigo nos longínquos anos oitenta.
Ana Maria Matute termina o livro contando como começou a escrever. E eu coloco aqui um atalho para esse texto lindo e tão intenso quanto seus contos.
Imagem: Javier Olivares no conto El Incendio.

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