Imagens

O cheiro do Café Paris ainda exalava na memória da sala. Ela se olhava no espelho enquanto caminhava em direção ao banheiro. Queria tempo para si, embora no caminho tenha encontrado um homem sorridente e vago que lhe disse o quanto era bonita. Levava o cabelo solto, perfumado, e o corpo de amar só.

No espelho antigo, de moldura escura, segurando uma xícara fumegante de café quase puro, ele a fitava. Queria estar a sós com ela. E parecia estar. Seu olhar era tão intenso que o desnudava. E era a dor que ela sentia que a fazia tão intrigante. E era aquela dor de amar só que ele queria curar.

Ela sai do banheiro, percorre o Café, desvia das pessoas, evita o contato, se livra do olhar dele e cruza a rua. Do outro lado, embaçada de solidão, não amarga, apenas vazia, se senta. Cruza as pernas, cerra as mãos, deixa o sol trazer-lhe o calor do não-amor. Abre a bolsa, metódica, e espera. O abraço que não vem. Ela tinha já tantos lutos para viver, que mesmo que ele a abraçasse anos a fio, nada daquilo – daquele peso, das perdas, do câncer, das incongruências – nada daquilo se dissolveria.

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