Na vida

Ela discordava dele, mas a forma com que ele falava não lhe permitia interrompê-lo.
Ela discorda dele. Ela ainda acha que o filme é sobre relacionamentos.
As pessoas quando se encontram não têm necessariamente as mesmas expectativas. Talvez nem tenham expectativas. Nem sempre as pessoas sabem o que querem. Nem sempre o encontro é promessa.
Há pessoas que não tomam decisões num piscar de olhos. Há outras que decidem fechando os olhos para o que virá depois. Hedonistas?
Há pessoas que decidem pensando em si mesmas, há pessoas que decidem pensando nos outros. Há pessoas que não decidem. O que acontece é que todos são julgados por suas escolhas e todos pagam um preço.

O ato de dizer não também tem seu preço e tem seu motivo.

En La Cama é, embora eu ainda não o tenha assistido, um filme sobre um casal que se encontra numa festa e passa a noite juntos. Na cama, dividem mais do que sexo, revelam-se, exploram-se, conhecem-se. Uma relação momentânea de prazer físico intenso e breve. O que acontece com cada um deles quando eles deixarem o quarto de hotel? O que vai acontecer depois? E se um deles não corresponder as expectativas do outro? E se um deles se apaixonar? O outro é responsável pelas consequências? E o que cada um aprende depois dessa noite? E o que se faz com a dor da perda? Ou com o ganho de talvez saber que há ou poderia haver mais do que esse encontro e mais na vida que cada um leva– embora cada um deles tenha uma vida (que inclui outras pessoas) fora da cama.

Sim, na cama é onde se sonha, se dorme, se sente prazer, se chora, se engana. Aos outros, e a si mesmo, mas só se engana na cama, quem também se engana fora dela. Ao mesmo tempo que sim, a responsabilidade é do indivíduo, é também do outro. Pois numa relação as coisas, pelo menos em tese, deveriam ser compartilhadas e divididas. Num caminho de mão-dupla o ideal seria que cada um fosse na direção certa para que não acabassem se chocando um contra o outro ou coisa pior.

Imagem: En La Cama, de Matías Bize.

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