Dentro do Mar

Ele se sentava todos os dias no mesmo lugar. Gostava de rituais domésticos, nos quais tudo girava ao seu redor. Ele dizia que podíamos ir, mas nos dizia quando tínhamos que voltar. Falava com um rigor quase caricato. Gostava de ler o jornal de domingo e discutir política somente quando lhe perguntavam. Todos sabíamos que se sentia isolado. Com ela não havia meios de conversar. Quando ela tinha onze anos, ele a abandonou. A partir desse dia as conversas eram encaminhadas a um outro ente familiar. Ele não a defendia, não verbalmente. Não confiava nela. Ela pensava que ele não mais existia. E não existia mais como figura paterna.

Para ela falta de palavras era uma forma de morte agonizante. E desistiu.

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