Antonio

De onde vem essa ebulição? Tanto fervo que meus olhos marejam.

Noite passada, o mar estava calmo. A noite muito escura, o céu vestia dois cachecóis semi-transparentes. Enquanto eu tirava meus sapatos bordados de rosa e me recostava na cadeira, verti um pouco de mim mesma, ali naquele escuro brando e urgente.

O corpo sentia um tanto de frio, um tanto de conforto na cadeira fria. A piscina ao fundo jazia, quieta e morna. Queria dezlizar meus pés latejantes pela borda de mármore negro. Mas me molhar antes naquela água que não me pertencia não faz parte.

Um estranho me tocou. E minha blusa de seda deslizou em suas mãos invasivas e barbáricas. Um outro estranho invadiu meu território e me afrontou com um olhar de cimento seco e cinza.

Era noite e tarde, mas não foi o cansaço que me venceu. Foram as faltas, a vulgaridade, o olhar para o outro.

Me sinto invísivel as vezes. Sou como nos sonhos que tinha quando criança. Talvez um dos meus maiores sonhos seja que alguém realmente me veja e não se assuste. Alguém que admire, compartilhe. E construa.

Me sinto, neste silêncio que pune, sangue, extremos, frio. Minha mão se fecha no ar, e tomba. Tento expressar com o corpo uma paixão de anos. A menina que quer um vestido de flamenco, que quer aprender a dançar com a alma. A que vai visitar a Espanha em Novembro, que vai conhecer tua casa, que vai estar em ti.

Se eu pudesse ter-te ao alcance do olhar, te mostraria o tanto de Gaudí que há em mim.

Imagem: Casa Vicens, Entrada. Tirada daqui.

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