A Love Supreme

Um dia eu vou abrir um livro e entender os porquês. E das minhas mãos vão sair os mais belos contos e versos e veias e gotas. Não pela tua falta, mas pela tua companhia. E borboletas cor-de-erva mate vão pousar em nossos corpos. E sob a luz do sol, embaixo de uma árvore, talvez na costa oeste, um dos meus dedos vai escorregar pelas tua pálpebra e dizer: ouve meu silêncio, perpetua minha mão na tua, soletra para mim o que eu não entender. Estende, de dentro do que és, as tuas complexidades, teus desejos, ardor, essência. Me faz trilhar o cristal inquieto do teu olhar.

Jaz na estante o livro sobre cidades. O livro das casas onde as pessoas se escondem, onde se sentam para discutir as bobagens do dias, os afãs. O livro da vida moderna, cheia de confortos, e vazia. Vazia de pessoas reais. Ou seriam: pessoas reais cheias de vidas vazias?

Foi quando reli o e-mail e me recostei no sofá que senti a urgência de contar e escrever. Solitária a jornada de quem reparte pão enquanto todos parecem dormir.

E não te enganes, a solidão é boa. Acompanha. Me ajuda a artesanalmente colocar as idéias em gavetas com puxadores prateados, com filetes escuros, envelhecidos. Assim como algumas idéias.

-Alô, filha?-... Essa frase volta e volta. Nem sempre eu era a filha. Mas mesmo assim, quis acolher tudo que suas mãos me podiam ofertar.

A Love Supreme, John Coltrane. Te escuto amar. No caos que existe entre meus pensamentos e tua vida.

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