Uma cidade

Eu sei bem como é a realidade. Sei como é comer arroz e feijão, cuidar da saúde, escutar o sono pesado de alguém, trabalhar bastante, ter saudade, querer ter uma casa com jardim, ter um cachorro grande, colher flores, limpar vidros, fazer faxina. Sei como é viver com a realidade. Nunca pedi nada que fosse impossível. Sempre entendi a rotina, embora dela nunca tenha me tornado amiga. Por querer viver uma paixão, perdi as coisas que eram concretas. E a bondade de um homem muito valioso, pelo qual eu guardo um amor-memória.

Um dia decidi, depois de muito pensar e agir, que ia escolher melhor. Que voltaria a estar só, por escolha. Que minha liberdade era preciosa. Que meu corpo é um templo onde só pode rezar quem eu quero que reze. Que minha mente quando estimulada pode ser muito. Que meu riso é um canto e uma virtude, que minhas mãos podem sim tocar. E que não é uma técnica, fazer rir, ou sentir um ao outro. É uma sintonia. Entendo muito melhor o que quero, embora as vezes aceite menos do que mereço ou do que desejo. Está muito claro para mim o que eu quero, sei que ele existe. Sei que vai ter problemas, que vamos nos desentender, mas que no final vamos rir juntos dos desencontros e desabar um no outro. Cuidando um do outro. Já são muitos os perigos desta vida. E basta a vida selvagem da cidade.

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