Numa de minhas tentativas frustradas de amar e ser amada assisti a este filme. Numa de minhas tentativas de me relacionar com o mundo escolhi este filme. Eu escolho filmes e escolho as pessoas erradas por períodos breves de tempo. Períodos em que primeiro, me iludo, depois nego, sofro, me exaspero e penso: que merda, ainda não foi dessa vez.

Houve uma vez , no entanto, que encontrei tudo o que buscava. E como no filme de ontem, que não é o mesmo da foto, sem nem ao menos ouvir sua voz, soube que, ao lado dele estaria feliz. Que pela primeira vez, ele preenchia os requisitos. Que eu fiquei contente ao saber que ele existe. Que ele é um ser humano que me deixa contente. E que se eu fizesse parte do seu universo, lhe trouxesse algum significado, lhe desse alegria, reconhecesse nele um companheiro, compartilhasse com ele minhas asas ou cauda de sereia, voaríamos e nadaríamos juntos. E também caminharíamos juntos.

Minha casa está um caos.

Minha alma está um caos.
Mesma quantidade de letras, significado distinto. Dores distintas. Alegrias distintas.

Tenho baldes de pintura em quase todos os cômodos da casa. Todas as roupas em cima da cama. Minha cama é uma ilha de histórias amontoadas e colecionadas por anos de exílio. Todos meus vestidos empilhados. Meus sapatos (tantos pares) amontoados em um closet vazio de paredes brancas e ainda sem vida. Uma vez eu pensei em queimar todas as minhas roupas. Seria mais ou menos como me esvaziar materialmente das lembranças. Esquecer dos jantares nos lugares sofisticados em que estivemos, as caminhadas nas montanhas, os dias de solidão em que eu me aninhava no sofá e rezava para me acostumar, as roupas de sair, de dançar, os vestidos trazidos do Brasil e de Porto Rico, o vestido para salsa, os sapatos que foram presente, a sandália comprada no Rio na última hora para ir a uma gafieira, o jantar no amarelinho, as caminhadas pela Lapa.

A casa não parece mais minha casa. O amarelo com o qual me acostumei não existe mais. O quarto de hóspedes virou meu quarto e é cor de pele de pêssego. O quarto grande parece uma piscina. Finalmente vou ter uma parece vermelha e vai ser na sala. Vou fazer dessa paixão que sinto a pele da parede longa do lugar onde moro. Uma continuação de mim. Assim, todo sol ao encostar-se nesse vermelho, vai me lembrar que ainda acredito. Em mim.

A alma está repleta de dúvidas. Necessita ajuda, compaixão, entendimento. Necessita entender seus descaminhos, suas vontades, necessita de boas pernas para mover-se para novos rumos. Necessita, minha alma, uma nova janela da qual observar, necessita uma jangada para dias em que navegar for preciso. Necessita de alimento e paz.

Me arrisco. E esta semana provou que sim, pago caro por isso. E acho interessante como quem não se arrisca me aponta o dedo e me diz o quão errada estou. Não me dizem diretamente, mas ao falar de outras pessoas, que fazem mais ou menos o mesmo que eu, me torcem a cara, me apontam o dedo, me jogam pedras. Também acho interessante que por querer desbravar os mistérios da alma humana, da vida, do comportamento, eu me sinta tão vulnerável, ou me exponha. Há momentos em que me ressinto, me indigno, me frustro. Devo repensar meus caos, mas nem por isso vou deixar de viver.

Nem vou falar do quotidiano. Ainda moro em Vênus.

Imagem: Venus, fisgada do Google.

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