Ao meu passado

Imagem: Chagall, Homage to the Past.
Eu sempre pensava em Chagall. E em meu passado. Minha cidadezinha no sul do mundo, nas coisas que fui, naquela vidinha que eu tanto achava laranja, meus escritos madrugadeiros, os filmes que me faziam ficar acordada em noites de frio intenso, os problemas, as mentiras, os estudos mais ou menos, os valores familiares, as faltas.
Esta semana me desfiz de muito de meu passado. Faz tempo que a terapeuta me diz para me concentrar no presente. Para um ser nostalgia como eu, isso se torna desafiador. Mas acredito que estou encerrando um ciclo. O ciclo da dor das faltas. Me dei conta que deixei de ser aquela guriazinha faz muito tempo. Faz tempo que me tornei uma mulher, com responsabilidades reais, desejos reais. Tenho o hoje. E o hoje merece meus cuidados, meus carinhos, meu respeito. Por isso aprendo dos amores passados, da meninice meio-amarga, dos abusos, do abandono, do amor que se misturava muitas vezes com dor. Me liberto das amarras do tempo, do ontem, estou incinerando o rancor, as dores de ontem.
Quero cometer erros novos. Antes eu nem sabia que podia me defender, mas agora sei que tenho esse dever. O tempo me trouxe um pouquinho de sabedoria, que nem sempre sei usar, mas chegou a hora de dizer um não rotundo ao sofrimento que aniquila, que me deixa prostrada.
Chagall, adeus.

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