Ecstasy

Preciso ver beleza. Preciso encontrar-te de novo para perder-me desta que me mantém distante. Preciso varrer as dores do passado para algum lugar onde não as veja, não as toque, não as abrace. Quero que meus braços sejam apenas teus. E que dessa inteireza de dois tentáculos magros e de formas definidas, saiam para ti, cresçam de mim para ti, uma certeza que te complete. Como se nós dois pudéssemos ser pássaros que entrelaçam suas asas e não se deixam ir. Preciso encontrar-me. Desfazer-me do teu passado. Recostar-me em ti, e ao olhar a água ver teus olhos azuis e tristes, deixar que meu corpo se arrepie ao teu toque e a tua sutileza. Deixar que cada onda que vem de ti, me sirva de abrigo, de lastro, de felicidade e êxtase. Descobrir a extensão do nosso amor tardio, preciso, e vasto, cheirar teu corpo e gravar nessa memória débil teus poros coloridos e suculentos. Preciso ver-te para entender que se há algum significado em estar viva foi para encontrar-te. Que busquei em muitas coisas sentidos, novidades, rebeldia, sustentáculo, mas foi ao deslizar minha língua em teu corpo, em beber de ti, e conhecer-te, em amar-te dentro do oceano que me reinventei: mulher, plenitude, uma alegria que brilha e emana o melhor de mim. Foi da música de ti que me soube muito mais etérea. Muito menos mundana. E sei que sou eu quem desperta em ti esse gigante. Te transformo: alquimia. Desta janela pela qual te incluo em minha vida pressinto: somos um.

Imagem: Ecstasy of Saint Therese by Giovanni L. Bernini. Daqui.

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