Eu não sabia exatamente como seria, mas decidi arriscar.

Antes eu escrevia aos borbotões e me rendia. Cansada, andava pela casa colhendo flores através das grandes janelas de vidro, caminhava pela escada circular, bebia café tragando a vida que pensava ter escolhido. Mas acredito que não somos nós que escolhemos. Tantos são os descaminhos, as não-escolhas, tantas são as coisas que fogem do nosso controle, que acabamos por ser apenas um mero produto de uma cadeia de acontecimentos.

Não confiava em Deus. Nem na imagem enrugada que via no espelho. As pernas ficariam flácidas. Os olhos murchos, as olheiras passariam a ser cor de ameixa, vincos surgiriam perto do lábio superior.

Voltavam-lhe as tardes na pequena cidade do interior, a poeira vermelha e seca que ela engolfava e respirava até chegar ao destino, os sonhos em ser como Clarissa, as promessas de deixar de ser invisível.

Alguns a minha volta pensam que sabem o que é melhor para mim.

Volto a estar dormente. O peito pesa. Um pouco de tontura. Pressão baixa, a língua mentolada toca os dentes brancos e lisos. Penso no beijo. Encontraste uma formula mágica pra me fazer feliz? Tens uma receita?

Fecho os olhos: minha vida não vai representar nada em talvez menos de 50 anos. Isso me alivia, me acalma. Me faz ver que minha importância é relativa, e por isso viver não pode, não deve ser tão pesado. Brindemos ao agora.

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