A minha face


Sem Mentira de Fabio Goes.
Minto quando me maquio. Minto que sou outra. Que estou qualquer coisa. Mera. Pinto os olhos. Borro os lábios com um tom que não existe. Temo me entediar neste silêncio. E então e que a casa está vazia. Todos dormem. O rio ao longe ressoa solidão. Ao longe eu escuto a música de Érico. Sou. Tosto a pele ao sol. Forço um sorriso. Encondo a amargura. Tento. Nesta noite enferma eu preciso. Preciso que a palavra me chegue. Que a vida aconteça. Mas como não posso me aborrecer, estou tentando ser feliz, me visto de algo menos ordinário. Me maquio. Base, lápis, batom. Sou uma nova personagem. Sou uma anêmona. No fundo do mar. A espera quem sabe de um sereio. Mas já não acredito no amor. Não finjo. Não corro riscos. Porque minha pele está em carne viva e me escorre o sangue. E vejo as manchas. E meu sangue seca e a pele vibra e se estira. Fujo, corro, corro, corro. Me debato. Sustento com minha mão de unhas reluzentes os quadros que não fazem sentido. Equilibro tudo aquilo neste alvoroço calmo de estar aqui. Exilada. Uma americana sem pátria. Uma brasileira sem lenço, nem documento. Não minto. Não preciso. Estou cansada. Quero a praia mais e mais e mais. Porque me traz boas lembrancas, um avião cruza o céu. Escolho delicar-me. Viver sendo delicada. Quero te esperar e não posso. E me dói. E ouço de novo a canção. E surto. E quero te ouvir. E um pânico, sim, um pânico de que ja não importa evocar-te.

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