A questao fundamental

Abro mao dos acentos, abro mao das exigencias. Escuto uma cancao em frances. Entendo palavras aqui e ali. Mas o que mais entendo e essa dor profunda que a musicalidade do idioma frances me ocasiona. E o ritmo da musica, e a voz dele, instrumentos que nao posso distinguir.

Me pergunto: porque temos de certas pessoas expectativas tao altas e de outras tao baixas?

Entre tantos planos, entre tantos escombros eu tento escrever como escrevia ha cinco anos. Ha quatro anos. Escrevo desde sempre, quando me doia estar viva. Passei pela rebeldia dos anos de adolescencia e escrevi poesias horriveis. Depois veio a fase de seca, na qual me perdi. E depois veio a fase dos arroubos, da vontade de conectar com alguem do outro lado.

Entao eu me imagino telefonando-te para saber como estas. Porque a esta altura o que eu quero e manter contato com as gentes que conheco. Nao tenho motivos escondidos. Nao me perguntes se estou fazendo isso conscientemente ou nao. Como saberemos?

Eu nao posso estar em um relacionamento. Nao ha nada para agregar, nao posso ofertar nada. Mas posso sim fazer companhia, falar com animo do novo filme, descrever o livro que estou lendo. Amar algo ou alguem em silencio. Arrancar das fibras mascaradas do silencio um motivo. O motivo para estar ou para ser qualquer coisa que nao seja vazio.

De todos os lados, quase tragica, enxergo mais e mais as pessoas. E me da vontade viver numa concha no fundo do mar.

Noite passada, sai para conversar com uma nova amiga. Estranho que as coisas que ela quer sao as que eu "tenho" e as coisas que ela "tem" sao as que eu quero. Trocamos figurinhas. Ela conta estorias tao bem. Ela tem esse jeito cool de alguem que esta terminando seu doutorado. Uma coisa quase blase. Super descolada. E fala da Europa como se fosse o bairro da esquina. Fala dessas memorias como se estivesse ainda la.

A questao fundamental: desvendar-me.

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