Todo o passado em meu corpo

Ja nem eu mesma aguento a mesma ladainha. Quero colocar um ponto final na nossa historia. Nossa historia que se arrasta ha meses. Por fim te disse: acabou. Mas eu sei dentro de mim que nao acabou. Que eu quase dirigi ate tua casa noite passada para estar contigo. Para te dizer que sinto tua falta. Que nos dois podemos ser. 

Certa vez tu ficaste emocionado por terem te dito que teu jeito de dancar se parece ao de uma pessoa muito conhecida e bem estabelecida no tango. Para mim essa pessoa foi sempre meio que um fantasma. A parte da tecnica, nunca vi nada de extra-ordinario em seu estilo. Eis que ontem ele me aparece. Me convida para dancar. Eu pasma, penso: sera que vai ser como dancar contigo? Dancamos minhas tres ultimas cancoes no lugar. Ele me sorriu um sorriso muito torto, mas que parecia muito sincero. Me pareceu impressionado. Seu riso o demonstrou. Dancamos tao perto que eu senti a fragrancia do seu perfume. Me lembra um perfume antigo Boticario que me causava certa repulsa, mas ao mesmo tempo me instigava. Se chamava Agua de algo. Sempre me pareceu infantil, mas ao mesmo tempo fresco e limpo. 


Quase cruel de minha parte nao contarte que penso em ti. Que lamento e maldigo tua ausencia. Que nessas noites infindas, regadas a Malbec, e o teu nome que murmuro. E la sentada, num restaurante metido a besta, em frente a um espelho gigantesco e envelhecido, eu ouvi nossas cancoes. Ora sozinha, ora  nos bracos de outros homens. Nao foi uma noite de danca inspirada, de romance, de juras de amor. Nem de orgasmos fenomenais e cansacos em teus bracos. Foi uma noite de curiosidade, de lagrimas, vinho tinto, solidao. De palavras desencontradas. Foi noite de voltar para casa, banhar-me, e recostarme na escuridao e tranquilidade da cama e casa vazias.

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