Primeiras Vezes


Imagem: The Embrace (The Loving), Egon Schiele


Primeiras Vezes

Não pensei que aos 35 anos de idade fosse experimentar tantas primeiras vezes. Não que o que o que não é primeira vez tenha menos significado ou importância. Mas já com certa experiência de vida, parece-me uma experiência vivida e cintilante re-descobrir o mundo sob um novo prisma.

Me entreguei a um homem no escuro de seu quarto e sob suas escolhas musicais. Adormeci em seus braços toda a noite. Lânguida e sutil, como se pertencesse a um quadro. Imagem estática e bela. Tranquila: como se soubesse que havia chegado ao amor. Primeira vez.

E foi então que passamos noites de lúxuria, entretidos nos braços um do outro. Mundos que se encontram outra e outra vez. Nossos braços conjugados, pernas entrelaçadas. A música, nosso ponto de encontro, preenchendo a escuridão do quarto. Beijos, nunca antes dados dessa forma, nos unindo. O primeiro orgasmo. Amores múltiplos. E repetimos esses rituais de amor da mesma forma, mas sempre diferente. Nos

encontramos com a música. E primeiro senti os sons de Tosca. Assim profundos, intermitentes. Como quando te sinto dentro de mim. Te sinto com meu corpo. Todo meu corpo. Na extensão da cama, nos meus poros.

Me entreguei a ti múltiplas primeiras vezes. Ao som de Djavan. Ao som de tango. Ao som de Kind of Blue. Noite inesquecível pela beleza de escutar algo novo ao lado de um homem que me faz liberta. Te olho. Te enxergo. Te enxergo na música e no sexo sentido de forma lírica, profunda, contundente.

Chet Baker. You Don’t Know What Love Is:

You don't know how hearts yearn For love that cannot live yet never dies Until you've faced each dawn with sleepless eyes How could you know what love is

Eu encaro o hoje e os amanheceres com o sentimento presente da primeira vez. Essa primeira vez de ter te descoberto por acaso. Simplesmente. Num abraço. E desse abraço descobrir o amor, amando-te.

Comments

Popular posts from this blog

Writing